Ernesto Neto ocupa Grand Palais de Paris com ressonâncias da floresta e da ancestralidade k5l6o
Ernesto Neto é um artista irrequieto, que liga uma ideia a outra, uma criação a outra. As honras são dele de ocupar até final de julho a imensa nave do Grand Palais, um dos principais endereços culturais de Paris, com "Nosso Barco Tambor Terra". A inauguração nesta sexta-feira (6) conta com a presença dos presidentes Lula e Emmanuel Macron. 6l4p66
Ernesto Neto é um artista irrequieto, que liga uma ideia a outra, uma criação a outra. As honras são dele de ocupar até final de julho a imensa nave do Grand Palais, um dos principais endereços culturais de Paris, com "Nosso Barco Tambor Terra". A inauguração nesta sexta-feira (6) conta com a presença dos presidentes Lula e Emmanuel Macron. 6l4p66
Patrícia Moribe, em Paris
Depois de instalações monumentais em locais emblemáticos da capital parisiense, como o Panteão e a loja de departamentos Le Bon Marché, o carioca Ernesto Neto criou uma enorme obra interativa no Grand Palais, com cores, cheiros e som.
Teias de crochê feitas de tecidos coloridos se agarram ao domo do local, formando uma espécie de cúpula, como copas de árvores. Os frutos exalam especiarias como canela, cravo e pimenta-do-reino. O artista convida os visitantes a tirar os sapatos e adentrar na instalação, pisando em lascas de cascas de árvores, descobrindo tambores de várias origens espalhados e prontos para serem manuseados.
O artista conta que a ideia começou a brotar em 2018, quando visitou Lisboa pela primeira vez. "Eu estava andando pelo Tejo, feliz da vida, com a minha esposa e uma amiga. A gente vendo aquele rio lindo, enorme, um céu azul maravilhoso, de repente eu me dei conta que o fim do rio estava ali adiante e que lá começava o Atlântico", relata Neto.
"E aí veio toda a nossa história, toda a colonização, toda aquela invasão, a problemática indígena, da matança, a problemática da escravidão africana que chegou no Brasil", explica. "Há também a consciência da nossa história, que é uma coisa que eu venho falando há muito tempo, que somos filhos de mães indígenas - filhos e filhas de mães indígenas. A ideia de Brasil nasce quando nasce a primeira criança, filha de europeu no Brasil e mãe indígena. E depois são os filhos de mães africanas que chegaram para serem escravizadas. Então é uma história bem complexa que a gente tem".
Quando o convite para a exposição chegou há cinco anos, a ideia já estava pronta. "Eu sabia que tinha que ser alguma coisa ligada ao barco, ao planeta Terra e ao tambor e à floresta, porque a floresta é a vida, a floresta é a multinatureza, é a força vital. É ela que limpa o universo, produz essa infinidade de seres vivos, essa pluralidade de encontros e desencontros, mas de também um encantamento, um milagre, essa coisa assim majestosa que é a vida".
"O planeta é cheio de tambores. Assim como nosso corpo, que tem um grande tambor, que é o nosso coração que está batendo - tum, tum, tum, tum. O tambor originalmente é feito de um tronco de árvore com uma pele de animal. Então ele é uma mistura do vegetal com o animal. Eu acho isso uma coisa muito linda. Claro que temos tambores hoje em dia de metal com vinil e coisas do gênero, mas a origem é essa", explica.
Nova geração 6b2h5k
O Grand Palais também dá espaço no mezanino para uma nova geração de pintores brasileiros, que participam da mostra "Horizontes", refletindo a pluralidade contemporânea no Brasil, ando por temas como identidade, espiritualidade, trauma e paisagem.
Agrade Camiz, nasceu no Rio de Janeiro em 1988. Suas telas apresentam camadas visuais e conceituais que lidam com o caos, intimidade de corpos e territórios populares. "Eu sou do subúrbio do Rio, comecei a pintar na rua, primeiro pichando e depois fazendo murais de grafite. Depois de 2017 eu comecei a sentir uma necessidade de me expressar de outras maneiras, usar outras coisas, outras materialidades", relata.
O mineiro Vinicius Gerheim (1992) é de Juiz de Fora. A ruralidade mineira tem parte importante na gênese de seu trabalho. "Juiz de Fora é uma cidade que tem 175 anos, é uma cidade muito recente. A maneira que consumi pintura foi uma pesquisa me levou a uma caligrafia de paisagem. Foi uma maneira de fazer uma conjuntura, unir tudo isso que eu aprendi e vi depois com o meu aprendizado na escola de pintura mesmo".
Marina Perez Simão, nasceu em 1980 em Vitória, e ou pela Escola de Belas Artes de Paris. Ela propõe uma abordagem abstrata e meditativa. "Eu venho trabalhando nessa série já há muitos anos, assim, um corpo de trabalho que são essas invenções de espaço que habitam o lugar entre paisagem e abstração", disse a artista à RFI.
Antonio Obá, nascido em 1983 em Ceilândia, encara a pintura como gesto político. Seu trabalho evoca a cosmologia ioruba, o cristianismo, os rituais afro-brasileiros para interrogar o corpo negro e sua representação.
"Nosso Barco Tambor Terra" e "Horizontes" fazem parte da Temporada França-Brasil 2025 e podem ser visitados no Grand Palais, de Paris, até 25 de julho, gratuitamente.