Não, acordo sobre pandemias da OMS não tem relação com nanorrobôs ou com rastreamento de pessoas 2t542n
DOCUMENTO ESTABELECE PROTOCOLOS PARA RESPOSTA RÁPIDA DE PAÍSES À TRANSMISSÃO DE DOENÇAS; NÃO HÁ QUALQUER MENÇÃO A 'RASTREAMENTO' EM VACINAS 4g6935
O que estão compartilhando: que o novo acordo sobre pandemias da Organização Mundial da Saúde (OMS) estaria relacionado ao uso de nanorrobôs em vacinas e à possibilidade de "hackear seres humanos". 1j341g
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O acordo aprovado pela OMS estabelece protocolos para que países possam responder de forma mais rápida e eficaz a uma possível nova pandemia. Não há nenhuma relação com nanorrobôs — robôs de tamanho minúsculo —, nem com a possibilidade de "hackear" ou rastrear seres humanos. O acordo menciona a importância da rastreabilidade de informações sobre vírus e bactérias que podem causar doenças. Neste contexto, a "rastreabilidade" significa saber de onde vieram e quem é responsável por essas informações.
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) já havia esclarecido em outra checagem do Verifica que a OMS não propôs o uso de "estruturas de rastreamentos" em vacinas.
Saiba mais: O vídeo foi publicado por um perfil com 614 mil seguidores no Instagram, que costuma publicar conteúdos de teorias da conspiração. No exemplo analisado pelo Verifica, são exibidas imagens desconexas, como se houvesse uma ligação oculta entre elas. Essa é uma estratégia de comunicação comum a propagadores de teorias da conspiração.
O vídeo mostra uma reportagem do Jornal da Band sobre o uso de nanorrobôs para matar células cancerígenas, um trecho de fala do historiador israelense Yuval Noah Harari e a notícia do novo acordo sobre pandemias da OMS. Esses três elementos não têm relação direta entre si, mas o conteúdo faz parecer que existe uma conspiração por trás deles.
A sugestão do vídeo é que a OMS estaria propondo um acordo para rastrear a população por meio da vacinação. A mensagem fica evidente nos comentários da postagem. Um usuário escreve: "Governo mundial do Caos, com o objetivo de ter o controle absoluto da população!!". Outro publica: "Eu e minha família não tomamos mais nem um tipo de vacina".
O que realmente diz o acordo da OMS? Há menção a nanorrobôs?
O acordo foi feito por países membros da OMS com o intuito de melhorar a prevenção, preparação e respostas a futuras pandemias. O tratado foi elaborado por três anos e foi aprovado no último mês, em Genebra, na Suíça, durante a assembleia anual da organização, sem oposição, com abstenção de 11 países. O documento estabelece protocolos de respostas e abordagens diante de uma possível nova pandemia.
Como já mostrou o Verifica, a palavra "rastreabilidade" é citada apenas uma vez no documento elaborado pela OMS. O artigo 12 estabelece um sistema de compartilhamento ente países de amostras de vírus e bactérias, para facilitar pesquisas sobre micro-organismos causadores de doenças. Nesse trecho, o acordo afirma que o desenvolvimento do sistema de compartilhamento deve levar em conta a necessidade de rastreamento e o aberto aos dados.
Nesse contexto, é possível entender a "rastreabilidade" como a capacidade de acompanhar as informações compartilhadas pelo sistema. Isto é, quando, onde e por quem foram registradas as informações compartilhadas entre os países participantes.
Em nota ao Verifica, a Opas, o escritório da OMS na região das Américas, reforçou que não há nenhuma medida de rastreamento por meio de vacinas proposta no acordo.
"O Acordo sobre Pandemias aprovado pelos países durante a Assembleia Mundial da Saúde não menciona qualquer tipo de 'infraestrutura de rastreamento'", afirmou. "Nenhuma das vacinas aprovadas para uso pela OMS e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) possui qualquer tipo de 'infraestrutura de rastreamento'".
O uso de nanorrobôs em pesquisas médicas é frequentemente citado em conteúdos conspiratórios nas redes sociais. O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), Renato Kfouri, explicou ao Verifica em outra checagem que ainda não existe o uso de robôs minúsculos no campo da vacinação.
"Ter mecanismos dentro da robótica que possam manipular microfragmentos ou moléculas que possam tratar doenças é muito desejável. Hoje, infelizmente, a gente não tem nada disso disponível", disse.
Evidências científicas indicam origem natural da covid, ao contrário do que afirma Casa Branca
Acordo sobre pandemias da OMS não isenta responsabilidade de fabricantes de vacinas
O que diz a reportagem da Band sobre nanorrobôs?
A notícia que aparece no vídeo, do Jornal da Band, fala sobre pesquisadores suecos que desenvolveram nanorrobôs capazes de matar células cancerígenas e reduzir o crescimento de tumores em camundongos. O experimento não foi realizado em humanos, mas isso é ocultado do conteúdo aqui checado.
No estudo, a ferramenta conseguiu reduzir em 70% o crescimento do tumor de câncer de mama nos animais. Os pesquisadores afirmaram que o próximo o é investigar se a tecnologia pode funcionar em modelos de câncer mais avançados.
O que historiador que falou em 'hackear' humanos quis dizer?
O vídeo mostra um trecho de fala do historiador Yuval Noah Harari, que parece afirmar que "chegamos ao ponto em que podemos hackear não apenas computadores, mas também seres humanos e outros organismos". O áudio está em português.
Na realidade, o historiador falava que o controle de dados é importante, pois o avanço das tecnologias pode atingir o patamar de "hackear seres humanos". O comentário foi repercutido por veículos de imprensa em 2018 (aqui).
Esse processo ainda não aconteceu, segundo Yuval, pois não há "o poder computacional e conhecimento biológico necessário para interpretar o cérebro humano". O historiador ressalta que isso está mudando devido aos avanços na ciência e computação e na biologia.
"Quando as duas revoluções se misturarem, conquistaremos a habilidade de hackear os humanos", afirmou.
O alerta do israelense foi distorcido no vídeo, que fez parecer que o historiador falava sobre uma situação que já ocorre atualmente.
E a foto do presidente do Banco Mundial com um olho vermelho?
O trecho final do vídeo exibe fotos do presidente do Fórum Econômico Mundial, Peter Brabeck-Letmathe, com um olho vermelho. As imagens fazem parecer que isso teria alguma relação com a conspiração apresentada no conteúdo.
Na realidade, as fotos são de 2017, quando Brabeck-Letmathe era presidente do grupo alimentício Nestlé. De acordo com checagem do portal francês 20 minutes, no ano seguinte ele explicou que ava por um tratamento contra câncer quando foi fotografado, por isso apareceu com um olho vermelho. Nos anos seguintes, o executivo aparece em fotos com o olho com coloração normal.
